A Experiência Cósmica da Turnê "Music of the Spheres" do Coldplay
- Loop - Gabriela Myller
- 5 de mai.
- 3 min de leitura

A banda britânica Coldplay, conhecida por sua capacidade de criar espetáculos visuais tão poderosos quanto suas composições melódicas, deu um novo salto artístico com a turnê “Music of the Spheres”. Desde o início, o projeto foi concebido não apenas como uma série de apresentações musicais, mas como uma verdadeira imersão sensorial. A crítica que se segue é uma análise do espetáculo oferecido por Chris Martin e companhia, que continuam a expandir os limites do que se espera de um show de música pop/rock internacional.
Lançada em 2022, a turnê mundial acompanha o álbum homônimo, fortemente inspirado em temas cósmicos, sustentabilidade e conexão humana. Logo de início, o que chama atenção é o comprometimento da banda com práticas ambientais inovadoras, para conciliar o uso prolongado de pirotecnia e energia, ainda minimizando a pegada de carbono. Desde o uso de pistas de dança que geram energia até a exigência de fontes sustentáveis para todos os materiais utilizados, o Coldplay se posiciona não só como entretenimento de massa, mas como um agente de transformação cultural.
Visualmente, a turnê “Music of the Spheres” é arrebatadora. O palco é composto por elementos circulares que remetem a planetas, luas e galáxias, combinando telões LED, pulseiras luminosas distribuídas ao público e fogos de artifício em perfeita sincronia com a trilha sonora. Essa ambientação garante que o público sinta-se parte de uma experiência universal — uma estratégia que dialoga perfeitamente com a mensagem do álbum. A música, nesse contexto, vira ferramenta de unificação e transcendência.
O setlist percorre clássicos como “Yellow”, “Fix You” e “Viva La Vida”, integrando-os com composições mais recentes como “Higher Power” e “My Universe”. O equilíbrio entre nostalgia e inovação é bem calculado. Chris Martin, com seu carisma habitual, conduz o espetáculo com empatia e energia contagiante. A performance vocal do vocalista continua sólida, e sua interação com o público — por vezes falando em diferentes idiomas conforme o país — contribui para um clima de proximidade rara em eventos de tamanha magnitude. Em meio às dificuldades climáticas associadas às gigantescas expectativas dos fãs, havendo a mínima possibilidade, a equipe não exita em cumprir com o espetáculo debaixo de tempestades, como foi a especificidade de pontuais ocasiões brasileiras.
Um ponto que merece destaque crítico é a teatralidade da apresentação. Se por um lado ela engrandece a experiência sensorial, por outro, em certos momentos, corre o risco de sobrecarregar o conteúdo musical. Há trechos em que o espetáculo visual compete com a emoção das canções, diluindo a força lírica característica da banda. Ainda assim, é inegável que o Coldplay soube adaptar-se à lógica contemporânea dos grandes eventos ao vivo, onde imagem e som são indissociáveis.
Outro aspecto importante é a inclusão de artistas locais em algumas apresentações, reforçando a ideia de que a turnê é, de fato, global. Há também espaço para discursos breves sobre paz, mudanças climáticas e empatia, que embora possam parecer panfletários para alguns, são apresentados com sinceridade e coerência com a trajetória humanista da banda.
A crítica final que se pode fazer à turnê “Music of the Spheres” é, paradoxalmente, também um elogio: ela é excessiva. O espetáculo é, em sua essência, uma ode ao exagero — de luzes, sons, cores e emoções. Mas esse excesso é parte intrínseca da proposta artística do Coldplay nesta fase. Ao abraçar o espetáculo total, a banda assume sua posição como uma das maiores forças da música internacional e convida seu público a sonhar junto.
Conclui-se que “Music of the Spheres” é mais do que uma turnê: é uma celebração da música como potência unificadora. Em tempos marcados por divisões e crises gerais, Coldplay entrega uma experiência que, embora não seja perfeita, é profundamente humana e necessária. Trata-se de um espetáculo que não apenas entretém, mas ressoa — em escala planetária.
Ressalto que esta crítica jornalística foi construída a partir de uma vivência pessoal — com o devido cuidado de separar o fascínio da análise crítica. Tenho o privilégio de afirmar que estive presente e pude sentir, de perto, a energia, a emoção e a vibração cuidadosamente orquestradas para oferecer um espetáculo envolvente.
Um show único, hipnotizante e capaz de despertar uma variedade de sentimentos no público.
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