Amores e entrelinhas
- Loop - Iasmim Teixeira
- 28 de abr.
- 8 min de leitura
Atualizado: 5 de mai.
When am I gonna stop being wise beyond my years and just start being wise?
teenage dream - Olivia Rodrigo

Existe uma sensação quase mágica quando, em meio ao caos das emoções, uma música parece entender exatamente aquilo que não conseguimos colocar em palavras. Como se as canções fossem capazes de atravessar a superfície e tocar sentimentos que nem sempre sabemos nomear.
Essa experiência, tão íntima e, ao mesmo tempo, tão comum, mostra como a música pode capturar nuances do que sentimos: o encanto, a dor, a dúvida e o recomeço.
Este ensaio propõe uma travessia pelas fases do amor, traduzidas em sensações e fragmentos de memória. Mais do que histórias de encontros e desencontros, é sobre a forma como se sente amar - e como, entre lágrimas e sorrisos, seguimos inventando novas maneiras de existir.
Ato I - Quando o amor parece filme
Can I go where you go?
Can we always be this close forever and ever?
Lover - Taylor Swift
No começo, o amor é sempre tão bonito. Ele chega sem a gente perceber, como uma faísca que acende no meio da rotina - um olhar, um sorriso meio tímido, uma vontade boba de estar por perto. O coração acelera, as mãos suam, as borboletas no estômago começam a fazer festa. Tudo parece novo, promissor, possível, até meio mágico.
Como uma boa amante de filmes de romance dos anos 2000, construo essa ilusão bonita de que o amor é um território seguro. Mas é aí que mora o perigo: quando a gente se entrega mais para a ideia do amor do que para a realidade da pessoa que está na nossa frente.
A gente esquece que, fora dos filmes, ninguém é só a parte boa. E que, às vezes, o roteiro que imaginamos não combina com o que o outro está disposto a viver. São apresentados estágios de confiança incondicional, onde as promessas de eternidade, que imortaliza a ideia de um amor que parece imbatível e livre de incertezas.
É a ideia de um conto de fadas moderno que, por mais que soe romântico, nos desafia a entender a fragilidade desse amor idealizado.
I have faith in what I see, now I know I have met
An angel in person, and she looks perfect
Though I don't deserve this, you look perfect tonight
Perfect - Ed Sheeran
Às vezes, a gente acredita tanto que encontrou o amor perfeito que até esquece de olhar direito. Vê um anjo onde talvez exista só mais um humano cheio de defeitos, assim como todos nós. E, quando a gente coloca alguém num pedestal, a queda dói ainda mais. Porque, no fundo, o amor perfeito que a gente vê diz mais sobre a nossa necessidade de ser amado do que sobre quem o outro realmente é.
A verdade é que idealizar é fácil. Difícil mesmo é enxergar o outro inteiro, com as falhas, as dúvidas e as partes que não se encaixam. E aceitar que o amor de verdade não é sobre ser perfeito, nem sobre viver um conto de fadas. É sobre aprender a amar o que é real - e isso, às vezes, exige muito mais coragem do que imaginamos.
No entanto, a narrativa começa a se desfazer quando a realidade se impõe.
Ato II - O desengano e a queda
So the winner takes it all
And the loser has to fall
The Winner Takes It All - ABBA
Tem amores que terminam antes mesmo da gente perceber.
Não é uma explosão repentina. É uma série de pequenos sinais que a gente insiste em ignorar: as conversas que esfriam, os olhares que se perdem, o cuidado que evapora devagarinho.
Primeiro vem o medo, a tentativa de fingir que ainda dá para salvar. Mas logo depois vem a queda - e ela é inevitável. É duro perceber que, no final, o amor vira uma disputa silenciosa, em que alguém sempre perde um pouco mais. Não importa quanto amor a gente colocou na história, nem o quanto a gente tentou manter as mãos firmes: às vezes, tudo desmorona mesmo assim.
E quando a ficha cai, a sensação é de ser deixado para trás enquanto o outro vai embora sem olhar para trás. Como se a história toda tivesse valido mais para um lado do que para o outro. Como se o amor, que parecia tão nosso, sempre tivesse pertencido a alguém que soube partir primeiro.
Afinal, o vencedor leva tudo.
And you call me up again just to break me like a promise
So casually cruel in the name of being honest
All Too Well - Taylor Swift
Mas o pior ainda vem depois, naqueles momentos em que a lembrança bate e dói.Não é só a perda que machuca. É a forma como certas pessoas conseguem ser tão indiferentes. Como conseguem quebrar promessas como se fossem de vidro barato, sem nenhum remorso.
É cruel perceber que quem você amou agora usa a desculpa da "honestidade" para justificar a distância, o descaso, a frieza. E a gente fica ali, tentando juntar os cacos de algo que parecia inteiro, revivendo cada palavra dita, cada abraço, tentando encontrar um sinal de que tudo aquilo foi real de verdade.
A raiva vem misturada com a tristeza. A vergonha caminha junto com a saudade.E no meio desse turbilhão, o que dói mais é entender que, por mais que a gente se esforce, nem todo amor é suficiente para segurar duas pessoas no mesmo lugar.
Às vezes, o que era doce vira uma lembrança amarga.
E tudo que resta é seguir em frente (mesmo sem ter certeza se já conseguimos deixar para trás).
Ato III - A dúvida depois da dor
Knowing me, knowing you
There is nothing we can do
Knowing me, knowing you
We just have to face it
This time we're through
Knowing Me, Knowing You - ABBA
Depois da dor, vem o silêncio.
Um silêncio estranho, desconfortável, que faz a gente questionar tudo o que viveu.“Será que foi amor mesmo? Será que foi real? Ou será que eu amei sozinho, inventei tudo na cabeça e segurei firme numa ilusão que o outro nunca sustentou?”
É difícil encarar a ideia de que o que parecia tão intenso pode ter sido só mais uma história para esquecer. A gente revisita cada gesto, cada palavra, tentando encontrar pistas de que aquilo existiu de verdade - tentando, de algum jeito, provar para si mesmo que não enlouqueceu de tanto sentir.
Mas às vezes não tem resposta. Às vezes o amor acaba mesmo sem um grande motivo, sem uma grande traição.
Só acaba.
E a gente precisa aprender a lidar com o fim que não fecha direito, que fica pendurado no peito como um livro sem última página.
We can't be friends
But I'd like to just pretend
we can’t be friends (wait for your love) - Ariana Grande
Mesmo assim, a vontade de manter alguma coisa persiste.
De fingir que ainda dá pra salvar pelo menos a amizade, ou a lembrança boa, ou o que sobrou depois do estrago. A gente se agarra à esperança de que, com o tempo, vai doer menos. De que vai ser possível olhar para o outro sem sentir esse aperto no peito.
Mas é mentira.
No fundo, a gente sabe que não pode ser amigo de quem viu a nossa alma inteira e, ainda assim, foi embora. Algumas distâncias precisam ser mantidas para que a gente se cure.
Fingir que nada mudou só machuca mais.
The rain came pouring down
When I was drowning, that's when I could finally breathe
And by morning
Gone was any trace of you, I think I am finally clean
Clean - Taylor Swift
E então, depois de muito tempo perdido entre dúvidas, saudade e mágoa, vem um dia diferente.Um dia em que a chuva para de cair.
Um dia em que a respiração volta ao ritmo certo e o peso dentro do peito parece ter diminuído. Não é um momento grandioso. Não tem música de fundo, nem revelação dramática, é só uma paz discreta, quase tímida.
E nesse instante silencioso, a gente percebe que ficou limpo.
Que o outro já não ocupa mais o mesmo espaço dentro da gente. Que a história não desapareceu, mas deixou de doer como antes. E que, de alguma maneira, sobrevivemos a tudo aquilo que achamos que nunca suportaríamos.
Essa é a verdadeira resposta:
A dúvida não some - ela se transforma em aceitação.
Ato IV - Dançar depois do caos
Right now, I'm in a state of mind
I wanna be in, like, all the time
Ain't got no tears left to cry
no tears left to cry - Ariana Grande
Chega uma hora em que a dor cansa.
A gente olha para dentro e percebe que já chorou tudo o que podia, já lamentou tudo o que precisava, já sofreu até onde era possível suportar. E de repente, no meio da bagunça que sobrou, nasce uma vontade nova: a vontade de viver.
Não é sobre esquecer o que passou - porque algumas dores a gente não apaga, sim como aprender a carregar essas cicatrizes sem deixar que elas pesem demais. É colocar uma música para tocar, levantar do chão e deixar o corpo lembrar que ainda existe vida depois da perda.
A alegria não volta de repente. Ela vem em doses pequenas: numa risada inesperada, numa manhã em que o céu parece mais azul, num abraço que não dói.
É nesses instantes que a gente começa, sem perceber, a dançar de novo.
Some boys romance, some boys slow dance
That's all right with me
If they can't raise my interest
Then I have to let them be
Material Girl - Madonna
A gente também aprende a ser mais exigente. Aprende que nem todo olhar vale a nossa entrega. Que nem toda promessa merece ser guardada como tesouro. Depois de tanto se despedaçar, a gente entende que a nossa paz vale mais do que qualquer história mal contada.
É sobre saber reconhecer o próprio valor.
É sobre escolher quem entra, quem fica, quem merece.
E aceitar, sem culpa, que nem todo mundo tem que ser parte da nossa história.
Don't treat me to these things of the world
I'm not that kind of girl
Single Ladies (Put a Ring on It) - Beyoncé
E então, quando o mundo parece querer te empurrar de novo para aquele lugar de espera, de expectativa, de dependência, você sorri e dança. Porque agora, dançar não é só um gesto - é uma decisão.
Uma promessa silenciosa de que, independente do que vier, você vai continuar existindo inteira.
O amor pode vir, claro. Mas não é ele que define quem você é.
A sua alegria não depende mais da presença ou da ausência de ninguém.
Ela é sua, sempre foi. E agora, finalmente, você se lembra disso.
O amor, com todas as suas formas e fôlegos, deixa marcas que a gente carrega mesmo quando acha que já esqueceu.
Entre as ilusões do começo, as quedas silenciosas, as dúvidas sufocadas e os recomeços tímidos, seguimos atravessando a vida, aprendendo a reconhecer nossas próprias cicatrizes como mapas de quem fomos e de quem ainda podemos ser.
Às vezes, a dor nos ensina a dançar de novo.
E, no fundo, talvez seja isso: amar, cair, levantar, seguir - como quem aprende, a cada passo, a se pertencer um pouco mais.
Nota da autora: Este ensaio foi construído a partir de uma linha criativa e interpretativa sobre as fases emocionais do amor. As experiências descritas não correspondem a vivências pessoais da autora, mas sim a uma narrativa literária criada para explorar sentimentos universais. |
Comments